Apesar da gigante popularidade do futebol, a visão comercial de “mandantes” limita a paixão do torcedor brasileiro
Por Clarisse Macedo e Tulio Gonzaga
Em 1950, o estádio do Maracanã abrigou quase 200 mil torcedores para a final da Copa do Mundo. Desde então, o futebol se consolidou como um pilar da cultura brasileira, capaz de unir pessoas de várias classes em um grito único pelo clube amado. Quase 70 anos depois, algumas práticas têm elitizado esses espaços e restringido o acesso aos estádios, deixando de fora muitos torcedores.
Camisas falsificadas e transmissão ilegal de partidas são exemplos de caminhos encontrados por quem não tem condições de estar nos estádios para ter contato com o futebol. Essas características, no entanto, não são exclusivas da atualidade.
“O futebol, em especial, nasceu burguês”, explica Neilton Junior, pesquisador em questões raciais e laborais no esporte brasileiro. Segundo ele, o futebol no Brasil se disseminava pela facilidade de ser praticado, mas, em paralelo, ia se organizando em associações burguesas. “E quando ele se institucionaliza, se torna, ao mesmo tempo, um objeto de consumo”, explica. Ou seja, enquanto o futebol se expandia e se massificava para camadas populares, também já havia uma ideia de mercadorização.
Hoje, por exemplo, um torcedor palmeirense que deseja assistir seu time pela Libertadores gasta R$ 180 no ingresso mais barato. Esse valor corresponde a 15% do salário mínimo pago ao trabalhador brasileiro, registrado em R$1.212 em 2022. Esse dado diz muito sobre as condições atuais do acesso ao futebol no Brasil.
Maike Andrade, torcedor do Palmeiras, comenta: “Realmente deixei de ir ao estádio e de pagar o meu plano de sócio torcedor porque não suportei o peso no meu orçamento mensal”. Ele fala que, especificamente no caso do seu clube, esse plano de fidelização reduz os ingressos a um grupo seleto, a uma elite que consiga ir aos estádios. Essa mercadorização do futebol se estende a diversos clubes e já impulsionou diversas manifestações:
Torcedores do Corinthians se manifestam contra a alta no valor dos ingressos. [Imagem: Reprodução/ Instagram @gavioesdafiel]
O momento de lazer, descanso e descontração é uma das principais razões para a reivindicação pelo acesso aos estádios. Para Neilton, a carga horária exaustiva e que reduz o tempo livre do trabalhador resulta em um afastamento dele como torcedor. “Com a vida que a periferia leva, ela não vai conseguir desejar futebol ou reclamar de um valor absurdo para o poder de compra que tem”. Mesmo que as redes sociais desempenhem algum papel na aproximação e informação aos torcedores, nada se compara ao sentimento de torcer das arquibancadas.