Alastra, projeto criado por Hayge Mercúrio, simboliza a resistência e a luta na moda periférica de São Paulo
Por Elaine Alves e Maria Fernanda Barros
Ateliê da Alastra na Ocupação 9 de Julho
Imagem: Elaine Alves / Arquivo Pessoal
Gucci, Prada, Dior, Balenciaga e Versace: essas marcas de grandes corporações produzem peças que circulam apenas nas elites do mundo fashion. Mas, diferentemente do que muitos pensam, a moda não é só para ricos. Quantas referências de moda periférica você conhece?
Uma potente referência é Hayge Mercúrio, de 32 anos, que idealizou a marca Alastra. Nascida em Cachoeirinha, bairro da zona norte de São Paulo, Hayge faz da moda uma ferramenta de luta política. A partir de garimpos, seja do lixo ou de brechós, a Alastra ressignifica peças de roupas que seriam descartadas, levando singularidade e originalidade para cada uma delas.
Hayge Mercúrio com camiseta da Alastra. Imagem: Reprodução/Instagram/@aalastraa
Hayge relata para o Central Periférica que sua marca é um reflexo de suas vivências e de sua personalidade: “Minha trajetória começa na periferia de São Paulo. Logo, sempre tive vontade de fazer o ‘corre’. Alastra é o resultado de não parar de ir atrás dos meus sonhos. Desde pequena sempre me interessei por pessoas originais, roupas incomuns, cortes de cabelo exóticos. Fazer do lixo uma peça repaginada, nova de novo, dá uma sensação de muita alegria”.
Alastra: um grito por meio do pixo, da história e da arte
“O nome Alastra vem do grito no peito. Vem da vontade de passar as informações que adquiri, por exemplo, dos nossos direitos”, declara a idealizadora da expressiva Alastra
O projeto nasceu em 2018 com a coleção LulAlastra. Por meio do uso de fotos dinâmicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do pixo como assinatura, trazendo à tona a cultura da periferia, a marca utilizou a moda para defender a liberdade do político. Foram feitas sucessivas homenagens, sempre com imagens poéticas, para interceder a favor da #LulaLivre e relembrar as ações de Lula em favor das comunidades periféricas.
Imagem: Reprodução/Instagram/@aalastraa
Outra coleção em voga, lançada em sequência, é a Alastronas. Carolina Maria de Jesus, Angela Davis, Dilma Rousseff, Frida Khalo, Maria Bethânia, Marsha P. Johnson: essas são algumas das Alastronas, mulheres que se destacam na luta por liberdade e emancipação feminina. Hayge expressa que, por meio da moda, ela “alastra” essas figuras políticas em imagens simples e cotidianas.
Camisa social Alastronas de Maria Bethânia
Imagem: Maria Fernanda Barros / Arquivo Pessoal
O propósito da retratação de todas essas personalidades históricas é atingir: “Somos corpos políticos também, então a ideia é nos encorajarmos com essas figuras e com a coragem trazida por elas”, conta a criadora. Além de objeto de vestuário, as roupas da marca constituem um espaço político para os que desejam consumi-las. E esse é o público que Hayge Mercúrio almeja alcançar, segundo ela, “um público com coragem e disposição para o diálogo”.
A moda periférica como instrumento de autonomia
Nascida e criada na periferia da capital paulista, Hayge aponta que existem poucas oportunidades para a juventude das ‘quebradas’: “Um jovem periférico tem pouco acesso e poucas possibilidades, parece que está fadado a um trabalho de muito baixa renda ou até mesmo o tráfico.” Assim, ela adentrou no mundo da moda para expandir suas perspectivas e realizar seus sonhos. “A moda pra mim é o grito!”, expressa.
Sua trajetória pode servir de inspiração. A maneira com que a Alastra, uma marca com origens periféricas, fortalece a luta política, pode motivar mais pessoas a fazerem da arte um combate à opressão. Para ela, o objetivo da apropriação da moda como mecanismo de força é “informar, possibilitar e capacitar”.
Imagem: Maria Fernanda Barros
As roupas da Alastra podem ser encontradas para venda on-line no instagram da loja (@aalastraa). Também estão disponíveis presencialmente na Ocupação 9 de Julho (Rua Álvaro de Carvalho, 427, Bela Vista) e no Gengibrão (Rua Amaral Gurgel, 287, Vila Buarque).