A palavra dada às jovens LGBTQ+ brasileiros
Por Juliette Ratto
O mês de Junho é normalmente referido como “Mês de Orgulho” em todo o mundo. Comemora as diferentes orientações sexuais e permite a todos aqueles que se identificam com o símbolo da bandeira arco-íris carregar as cores e exigências. Este mês é também uma oportunidade para destacar as grande diferenças que ainda existem no tratamento e percepção das pessoas LGBTQ+ em todo o país, particularmente em relação à saúde. Aqui, os jovens LGBTQ+ do Brasil têm a oportunidade de expressar os seus sentimentos sobre a saúde sexual como gay, bi, lésbica, trans, queer e outras orientações.
Bandeira LGBT simbolizando a aceitação de todos num bar em Pinheiros, São Paulo.
Uma LGBTfobia socialmente enraizada que torna negativa a percepção dos problemas de saúde das pessoas LGBTQ+
Os diferentes testemunhos dos jovens LGBTQ+ brasileiros são unânimes: os estereótipos ainda estão profundamente enraizados nos costumes e modos de pensar brasileiros. De acordo com Gabriel Diniz Tavares, estudante de jornalismo de 21 anos, “há muito preconceito, mesmo que velado, sem exposição. Mesmo assim, você sente as dificuldades e quando é um preconceito explícito, afeta seu emocional”. Ryan Braz, estudante de relações internacionais de 19 anos, completa a declaração dele: “o Brasil é extremamente violento com a comunidade, sobretudo, com pessoas trans.”
Enquanto o Brasil se tornou o primeiro país latino-americano a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo em 2004 e a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2013, as ações abertamente homofóbicas do presidente do país vão contra a imagem progressista que alguns dos habitantes tentam defender. Esta rejeição da diferença manifesta-se em particular na violência. Segundo o governo do estado do Rio Grande do Sul, "no Brasil, em 2018, ocorreram 420 mortes entre a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais por violência”. Foram mortas 175 pessoas trans em 2020, 51 a mais que em 2019, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais.
Isso afeta a discussão dos problemas referentes a saúde e vida sexual da população LGBTQ+ que são vistos como "uma forma de punição", segundo Carlota Garcia, uma pesquisadora de 28 anos que se identifica como assexual. “Quem mandou transar com todo mundo?”, ela diz ironicamente.
Bruno, estudante de física, lembra que a bissexualidade é difícil de ser aceita pela sociedade. Na última pesquisa do IBGE, 95% da população brasileira acima de 18 anos se declara heterossexual, “sendo nós [LGBTQ+] considerados como "renegados", quase como que à parte da sociedade”, diz ele. A visão da sociedade sobre as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e os problemas de saúde das pessoas pertencentes à comunidade LGBTQ+ é, para Bruno, “horrível, como se fosse algo que é consequência apenas de relações que estão fora na heteronormatividade”.
Desinformação e prevenção de riscos específicos de DST
Como todas as pessoas sexualmente ativas, independentemente da sua orientação sexual, as pessoas LGBTQ+ enfrentam riscos de saúde (DST, HIV, HPV, hepatite etc.). No entanto, embora as campanhas de prevenção e comunicação abundem no que diz respeito aos riscos enfrentados pelas pessoas heterossexuais, é mais difícil para as pessoas LGBTQ+ sentirem-se representadas e, portanto, afetadas por estes métodos de comunicação. Para Bruno, “diversas campanhas contra DSTs que existem no Brasil tratam apenas de relações heteronormativas”. Ele toma o exemplo das campanhas que geralmente aparecem no Carnaval, que “só começaram a tratar das relações homossexuais nos últimos anos (ver imagem), e ainda é visto com extremo tabu pela sociedade, sendo muito julgada por grande parte das pessoas”.
Imagem : Campanha de prevenção de DSTs no Carnaval - Ministério da Saúde, 2019
Assim, a pergunta “Você se acha melhor ou pior informado do que uma pessoa heterossexual sobre os riscos à saúde?”, Carlota respondeu : “eu penso que o problema está mais com a forma como profissionais da saúde são treinados para trabalhar na área do que com o gênero orientação da pessoa”. De fato, este sentimento surgiu várias vezes nos interações com as pessoas envolvidas, particularmente para Maria Alves, uma estudante de 20 anos da engenharia química, que não se sentia nada apoiada pela sua ginecologista com a sua sexualidade e de ter relações com as mulheres: “os ginecologistas por exemplo não conseguem me orientar direito sobre relações sexuais. É um pouco difícil aprender sobre preservação e sexo seguro no ginecologista quando você é sáfica”. Gabriel, pela sua parte, fez muitas pesquisas: “sempre fui muito ativo na busca por informações, então não foi algo difícil de ter acesso aos cuidados”. As informações existem, mas cabe às pessoas em causa descobrir, uma vez que as representações são de outra forma inadequadas: “esse tipo de discussão sobre a prevenção de riscos de DSTs para pessoas LGBTQ+ no Brasil tem se tornado piada para a maioria das pessoas" declara Carlota.
Esta declaração deve, no entanto, ser qualificada. Para Ryan, “pessoas LGBTQ+ têm uma liberdade sexual maior e por isso são mais conscientes dos riscos a saúde”. Ele acha também que, de forma geral, a prevenção de riscos de DSTs para pessoas LGBTQ+ é suficiente no Brasil. Mas isso varia de região para região: "Em São Paulo, acredito que a população LGBTQ+ receba tratamento adequado”. De fato, existe uma certa abertura nas grandes cidades culturais como São Paulo ou Rio de Janeiro, particularmente em certos círculos cultos e, em geral, bem situados, o que não é comum a todo o país.
Uma libertação gradual da fala por associações ou redes sociais
Os jovens LGBTQ+ entrevistados ainda encontram espaços para intercâmbio e informação sobre a sexualidade e a sua orientação sexual. Mas requer sempre um primeiro passo de contato que requer revelar-se a si próprio. Por boca a boca, cada um deles encontrou um lugar seguro para a discussão. “No espaço universitário o debate é bastante aberto e amplo", alegra-se Bruno, "fazendo ser uma experiência verdadeiramente acolhedora. Existem Unidades de Saúde que tratam especificamente de DSTs que eu me sentiria seguro para ser testado e tratado”. Gabriel e Ryan também mencionam as Unidades Básicas de Saúde, postos de saúde nas principais cidades brasileiras que oferecem cuidados de saúde primários ao abrigo do Programa Saúde da Família. (Aqui está a lista de unidades em São Paulo : https://postosdesaude.com.br/sp/sao-paulo )
De acordo com Carlota, a tecnologia digital permite também uma libertação gradual da fala, particularmente no Instagram, onde "diversas profissionais da saúde fornecem informação gratuita e de qualidade pelo simples e puro interesse em que mais mulheres possam conhecer e decidir sobre seus corpos". Ela cita, por exemplo: @diudecobre, @fluenciacorporal, e @fertilidadepositiva.
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