O retorno às aulas presenciais em um cenário pandêmico, sem vacina para todos e com os alunos desanimados
A retomada das aulas presenciais em São Paulo, anunciadas pelos governos estadual e municipal no início deste ano, está longe de ser um retorno completo. As escolas ainda estão se adaptando às novas medidas de segurança, e o uso de tecnologia e softwares para o ensino à distância ainda são predominantes em um cenário que junta descaso a irregularidades.
As escolas, apesar do retorno presencial, têm que fazer um rodízio imposto pelo limite máximo de alunos em sala - 35% do número total de estudantes matriculados. Isso prejudica as sequências didáticas elaboradas pelos professores e não garante a presença dos alunos — mesmo convocados, muitos não aparecem mais nas escolas . Os professores ouvidos pelo Central Periférica relataram que toda essa dificuldade mantém os alunos distantes e facilita a evasão.
A quase impossibilidade de seguir à risca os protocolos de biossegurança também foi citada pelos professores como fator agravante. A adoção dessas medidas — como a medição de temperatura corporal e o uso constante de álcool em gel — encontra dificuldades tanto em sua aplicabilidade no dia-a-dia (verificar se todos os alunos estão de máscara a todo o tempo, por exemplo) quanto financeiras: as verbas destinadas aos protocolos de segurança foram enviadas apenas no ano passado.
Na escola da professora Cristien Lara Lorenzo, por exemplo, há apenas uma funcionária da limpeza para conseguir manter as salas desinfetadas — são cerca de 17 salas em cada um dos três períodos. Já na escola do professor Luiz Felipe não havia dinheiro disponível para a compra de termômetros.
Raquel de Oliveira, professora de educação infantil, diz que um dos principais desafios é o fato das crianças pequenas não conseguirem compreender o motivo de serem obrigadas a manter distância, de não poderem abraçar o coleguinha e ter que ficar sempre com máscara. Como a própria professora salienta, “educação infantil é um espaço de movimento, de trocas e interações”. Tratar dessa faixa etária em um momento tão perigoso como este, então, traz desafios a mais, que pedem empenho e criatividade para serem resolvidos: “ao longo do tempo, nós fomos explicando, passando vídeos, fizemos cartazes, e a cada dia elas vão compreendendo um pouco melhor essa necessidade de cumprimento dos protocolos”, explica Raquel.
Para o retorno se manter seguro é necessário que todos os professores, funcionários e alunos estejam vacinados, coisa que ainda não ocorreu. No início do ano, os trabalhadores da educação decretaram greve, reivindicando que fossem todos vacinados antes de retornarem presencialmente. A paralisação teve seu fim no início de junho, depois de mais de 120 dias de greve. Mesmo mês que anunciaram que todos os docentes maiores de 18 anos poderiam tomar a primeira dose — vale lembrar que eles retornaram ao trabalho presencial em abril. No caso dos outros funcionários, é preciso seguir o plano estadual que atualmente promete que todos estarão vacinados, com a 1ª dose até setembro. Já os alunos têm uma situação mais complicada, já que o plano de vacinação só inclui maiores de 18 anos.
Apesar dos surtos de infecções que vez ou outra atingem as escolas, a maior parte delas ainda funciona de forma parcial. Algumas permitem aos professores com comorbidades ficar em casa, trabalhando apenas com o ensino remoto; mas não há unidade na atuação das escolas, e a diversidade de situações ainda é a ordem do dia. A categoria como um todo ainda espera por mais doses das vacinas.
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