Os cinemas públicos são espaços abertos com o objetivo de democratizar o acesso ao cinema para a população. No entanto, o retorno após a pandemia tem apresentado dificuldades
Por Gabriele da Luz Mello, Nathalie Rodrigues e Laisa Dias
Cine Eldorado, em Diadema.
[Imagem: Marcos Luiz/Prefeitura de Diadema]
Em São Paulo, é possível encontrar duas iniciativas dessa democratização: os Cineclubes e o Circuito SPCine. Nos cineclubes a população não apenas assiste aos filmes, como também participam de rodas de conversas e são imersas no mundo cinematográfico. São ambientes sem fins lucrativos onde os participantes podem escolher o que será exibido, seguindo uma temática escolhida para a discussão.
O movimento do cineclubismo foi uma iniciativa francesa que surgiu na década de 1920, chegando ao Brasil em 1928 no Rio de Janeiro e em 1940 em São Paulo. De acordo com o Instituto de Cinema, um dos principais objetivos dos cineclubes é "refletir sobre a linguagem e do cinema, possibilitar a experiência fílmica como ferramenta de educação, estimular o desenvolvimento do pensamento crítico e viabilizar ações concretas de intercâmbio entre cineclubistas, realizadores, pesquisadores, críticos e pessoas enxergam o cinema como uma arte transformadora".
Já a SPCine é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo e teve seu início em 2013, após a implantação de uma nova política de cinema e audiovisual para São Paulo. A SPCine é articulada com o Governo do Estado de São Paulo e o Governo Federal e busca apoiar o desenvolvimento do setor cinematográfico em dimensões culturais, artísticas e econômicas.
Cinema e população
A falta de cinemas acessíveis é um problema que afeta a população periférica. Em Diadema, o Cine Eldorado funcionava como o único cinema público da região do ABC, contando com 132 lugares para os espectadores. "No início era até bom, mas depois as salas começaram a ficar muito lotadas", narra Ryan, morador da cidade. Ao ser questionado se o cinema ainda está em funcionamento, ele diz: "não que hoje ele esteja fechado, mas nunca se sabe quando pode ser acessado e quais filmes passam".
A realidade muitas vezes encontrada pela população são as portas fechadas e quando não, a incerteza e condições de sucateamento dos cinemas. "A estrutura em si não é ruim, o fato é que os filmes são antigos e repetidos. Acho que a estrutura não importa tanto quando se está passando filmes novos e interessantes", complementa Ryan. Essa realidade ocorre em diversos outros cinemas locais, que acabam sucateados ou esquecidos, sendo eles criados por pessoas da região ou do Circuito Spcine, por exemplo. Dos vinte cinemas alocados por toda a capital, apenas cinco encontram-se funcionando. Os que estão fechados, como é o caso do cinema do CEU Feitiço da Vila, ainda utilizam a pandemia de COVID-19 como justificativa, impedindo o acesso da população a esses espaços.
Print do site do Circuito Spcine indicando que as sessões de cinema no CEU Feitiço da Vila, no Capão Redondo, estão suspensas devido a pandemia de COVID-19
[Imagem: Reprodução/Circuito Spcine]
Trazer o cinema à população não é o único desafio, mas também é necessário que haja a mobilização da comunidade, para garantir seu funcionamento e manutenção. Muitos moradores deixam de frequentar espaços públicos de cinemas por não sentirem interesse em assistir os filmes que são exibidos. É aí que projetos sociais ganham ainda mais importância, uma vez que é por meio dele que a população passa a se conectar e valorizar a cultura a qual tem direito.
Apesar das dificuldades, Ryan reconhece a relevância do espaço para a população: "Tem pessoas sem condições que não tiveram nem a oportunidade de ver um filme que chegou 'na boca do povo'". Ele acredita que o cinema de sua cidade precisa de uma reorganização, uma vigilância adequada para evitar que as pessoas destruam o ambiente e de maior divulgação para que os moradores saibam da existência daquele recurso.
Ambientar a população no mundo cinematográfico por meio da produção e exibição de seus próprios projetos é uma maneira de mobilizar as pessoas. Uma vez que quando elas passam a perceber mudanças positivas acontecendo ao seu redor, alimentam o interesse em participar e prestigiar as produções cinematográficas.
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