Pesquisas apontam que fatores socioeconômicos e étnico-raciais influenciam na escolha do candidato
Por Gabriela Barbosa, Julia Martins, Natalia Tiemi,
Tatiana Couto, Leonardo Carmo, Yasmin Andrade e Yasmin Teixeira
Em períodos eleitorais, a disparidade socioeconômica da cidade de São Paulo torna-se proeminente. Entre disputas partidárias de esquerda e direita, as diferenças de gênero, raça e classe da população revelam-se através das porcentagens de voto em áreas de apoio do estado. Marcadas pela má distribuição de renda, assimetria racial e educacional, tais desproporções são vistas nas óbvias diferenças entre as regiões centrais e periféricas da cidade, que raramente apresentam a mesma escolha de candidato.
Essas diferenças foram marcantes na eleição presidencial de 2022, uma disputa acirrada entre o ex-presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores, e Jair Bolsonaro, presidente em busca da reeleição, do Partido Liberal. Diversos fatores, como raça, classe e gênero, influenciaram nas decisões dos eleitores paulistanos.
O perfil do eleitorado paulistano
Na cidade de São Paulo, os resultados concederam uma vitória ao presidente eleito Lula com 53,54% dos votos, enquanto Jair Bolsonaro ficou com 46,46%. Porém, a distribuição não se mostrou homogênea. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, o apoio a Lula foi mais expressivo nas regiões periféricas da cidade de São Paulo. Já nas zonas eleitorais mais próximas do centro da capital, a tendência era que Bolsonaro fosse o candidato preferido.
Informações presentes no Mapa da Desigualdade, publicado no ano passado, contribuem para determinar diferenças marcantes entre os eleitores de cada candidato. Elaborado pela “Rede Nossa São Paulo”, o mapa identifica as prioridades e necessidades da população paulista. Dessa forma, a pesquisa pode servir como instrumento de apoio para a gestão e o planejamento municipal.
Dos bairros de classe média analisados, com exceção de Santana, todos os outros possuem menos de cem mil habitantes. Por outro lado, dos distritos periféricos, dois estão entre os três mais populosos: Grajaú, em primeiro lugar, com 390 mil habitantes, e Capão Redondo, o terceiro, com 298 mil habitantes. Nas dez primeiras posições também aparecem Jardim São Luís, Brasilândia e Cidade Tiradentes, todos com mais de 200 mil pessoas. Parelheiros possui o menor número, mas, ainda assim, acima de 150 mil habitantes.
A discrepância também é visível quando se observa a questão racial. Dos distritos periféricos analisados no gráfico, quatro aparecem entre os dez com maior população negra e parda da cidade de São Paulo. Grajaú, Parelheiros, Cidade Tiradentes, Capão Redondo e Jardim São Luís, que aparece na 11º posição, possuem mais de 50%. Já entre os de classe média, nenhum dos bairros chega a ter mais de 21% de habitantes negros ou pardos.
No indicador econômico, Cidade Tiradentes, Brasilândia, Capão Redondo, Grajaú e Parelheiros estão entre os dez bairros com a menor taxa de oferta de emprego formal a cada dez habitantes da população em idade ativa (PIA). Brasilândia e Capão Redondo também figuram entre os cinco distritos com menor remuneração média mensal do emprego formal, ambos com menos de R$ 2.000. Dos bairros de classe média, os melhores indicadores são do Butantã, onde a taxa de oferta de emprego formal a cada dez habitantes chega a 12,6 e a remuneração média mensal fica acima de R$ 4.000.
Outro dado relevante é a escolaridade dos eleitores. Segundo a pesquisa feita pelo Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), em janeiro de 2020, as regiões chamadas de Centro Ampliado e Leste 1 possuem as maiores parcelas de pessoas com o ensino superior completo, 28,3% e 18%, respectivamente. Os distritos do Butantã, Mooca, Tatuapé e Vila Formosa integram essas regiões. Em contrapartida, as regiões Leste 2, com 38,3% e Sul, com 41,4%, apresentam as maiores taxas de pessoas que não completaram o ensino fundamental. Consequentemente, os bairros periféricos analisados no gráfico de percentuais de votação, possuem os menores índices de população com ensino superior completo.
As tendências de voto
Para o professor de Ciência Política da USP, Glauco Peres da Silva, “o eleitorado tem mudado muito de comportamento nos últimos anos e acontece o que está sendo chamado de uma guinada à direita.” Ele acrescenta que “os eleitores de alta renda votam mais diretamente do que os de baixa, mas todo o eleitorado se mostrou muito mais disposto a votar em candidatos de direita.” Porém, os resultados das eleições em alguns bairros não obedeceu esse movimento.
Mesmo que na maioria dos bairros periféricos tenham permanecido os candidatos progressistas, os números mostram um crescimento na preferência dos candidatos da direita. “Os candidatos conseguem concentrar suas campanhas nas periferias, fazendo com que os seus esforços sejam recompensados com um aumento dos votos, mesmo que isso não signifique uma relação direta de ação-reação”, explica o pesquisador.
É comum, portanto, que, durante as campanhas, ajudas sejam fornecidas, como entrega de cestas básicas e gás de cozinha, como uma forma de influenciar a decisão da população. Segundo Glauco, “esse clientelismo acontece, mas na sociedade brasileira, não se perpetua, porque o candidato não possui os meios de ter certeza se o voto foi para si”.
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