Os obstáculos enfrentados pelos funcionários que não tiveram opção de adotar o isolamento social durante a explosão do novo corona vírus
Por Amanda Marangoni e Guilherme Caldas
Funcionários do comércio na pandemia [Imagem: Reprodução/Flickr/Eneas de Troya]
Desde a chegada do novo corona vírus ao Brasil, em 2020, as autoridades científicas buscam maneiras de conter o avanço do contágio no país. Uma das principais e mais eficientes maneiras de prevenção, se adotada corretamente, é o isolamento social já que, ficando em casa, as pessoas não contrairiam e nem transmitiriam o vírus. Ficar em casa, porém, não foi uma opção para vários profissionais de serviços essenciais e do comércio no geral.
O chamado “novo normal” não se aplica a todas as áreas. A rotina do comércio essencial continua a mesma de antes da pandemia, exceto pelas máscaras, o álcool em gel e o sentimento de medo dos funcionários que se vêem constantemente expostos ao vírus. Lorran Vinícius, funcionário de um supermercado em Vila Velha, no Espírito Santo, relata a dificuldade da rotina no trabalho durante a pandemia. “Eu trabalhei presencialmente principalmente durante o início da pandemia, porém fui afastado do meu serviço pois faço parte do grupo de risco.” Conta Lorran. “Mas tenho asma e por este motivo me afastaram, por ter doença crônica.”
E ainda que o comércio chamado essencial tenha continuado funcionando normalmente durante a pandemia, não tardou para que outros tipos de comércio, como lojas e shoppings voltassem a abrir e, assim, também expusessem seus funcionários ao risco. É o caso de Maria Júlia, vendedora de uma loja de roupas em Botucatu, no interior de São Paulo. Com um regulamento inconstante da prefeitura e do governo estadual sobre o isolamento, os funcionários sofreram não apenas com a insegurança, como também com um aumento do fluxo de clientes conforme o comércio reabria. “ No começo da pandemia (primeiro mês) eu senti que o fluxo estava normal, se manteve estável nos primeiros meses de abertura em delivery e drive", relata Maria. “Mas depois do segundo mês, eu senti um aumento da demanda em todas as idades. Tivemos até que sinalizar para atender na porta, pois as pessoas faziam aglomeração”, continua.
Ainda que em ramos diferentes do comércio, o que torna muito parecidas as situações de Lorran e Maria Júlia é a insegurança constante de ter que trabalhar enquanto todos os especialistas orientam a ficar em casa. “Foi uma situação complicada por estar ali em risco e ter que lidar com os cliente diretamente, e não podíamos dizer não, por que também precisávamos de dinheiro para pagar as contas e afazeres”. Explica Lorran. “Foi sim algo que me preocupasse muito, assim que saiu a proposta de ficar em casa por ser grupo de risco, eu optei por ela", conclui.
Já Maria, que continua trabalhando e só está afastada porque testou positivo para Covid-19 há uma semana, fala sobre o incômodo de continuar em contato direto com os clientes: “Eu me sinto insegura até hoje pra ser sincera, por mais que as pessoas usem máscaras e estejam com álcool a disposição, o contato é muito direto, a prova de roupa, acaba gerando um certo desconforto”.
Os casos de Maria Júlia e Lorran estão longe de serem isolados e refletem o despreparo de praticamente todo o sistema produtivo do Brasil para proteger os cidadãos de um vírus mortal que, há mais de um ano, afeta a vida dos brasileiros.
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