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Creches: problemas, além das filas

Algumas mães esperam longos períodos, enquanto outras conseguem sem demora. A falta de preparo e estrutura nas creches é um dos maiores empecilhos para a educação infantil.


Por Julia Estanislau



Professora e crianças em um tatame na creche DRE Pirituba / Rafaele Paulazini.

A procura por creches é algo que se mantém, ano a ano, como uma das maiores preocupações das famílias que trabalham fora e dependem delas para educar e cuidar de seus filhos. Porém, o acesso a elas não é totalmente democratizado. Um dos empecilhos para o acesso à educação, hoje, é que a demanda é atendida dependendo da disponibilidade de vagas: pode ser afastado ou não ter estrutura, mas a vaga será preenchida.

O raio de alocação dessas crianças é de 1,5km de suas residências. Entretanto, uma rápida pesquisa no site Vaga na Creche da Prefeitura de São Paulo demonstra que em muitos lugares essa distância não comporta creches e CEIs de acordo com todas as idades, o que levaria uma mãe a não ter a possibilidade de matricular sua criança em uma creche.

A Prefeitura, em 2020, publicou uma notícia de que as vagas da creche estavam zeradas e, por conta da propaganda eleitoral, essa informação continua sendo propagada. Porém, Danielle Custódio, mãe do Luizinho e moradora da Vila Mirante, teve uma experiência bem diferente do que é noticiado: “Eu tentei a vaga e ele não tinha nem um aninho, porque eu já ia voltar a trabalhar e a gente ficou na espera. Acho que por uns cinco meses”, conta a mãe.

Durante o tempo em que ficou na fila, teve que colocar seu filho em uma creche privada, a qual contou com ajuda dos familiares para pagar. Assim como ela, outras mães enfrentam o mesmo problema, quando não são surpreendidas pela falta de creches em seu bairro. Em Pirituba, onde reside Danielle e sua família, a fila de espera nas creches está em 58 crianças, segundo levantamento da prefeitura de junho deste ano.

Geisa Cavalcante, mãe da Lorena e moradora da Vila Zatt, relata o contrário. Como procurou vaga durante a pandemia, não teve que esperar na fila e em dois dias a filha já estava matriculada.

Outro problema evidenciado por Danielle é a falta de estrutura adequada para receber as crianças. Muitos locais que hoje comportam as escolas infantis e creches antes eram moradias e, por isso, não tem uma boa acessibilidade para essa faixa etária. No caso dela, “era uma opção minha deixar ele, porém eles não tinham estrutura para idade que ele tinha, que era menos de um ano”, diz. “E aí quando eu fui lá, elas [as professoras] me falaram que a prefeitura joga as crianças para as escolinhas, mas às vezes eles não dão a estrutura”, complementa.

O papel da escola não se esgota na educação, mas tem um espaço social importante. “Dependendo da região em que você trabalha, se ele é bem periférico, você pega sim situação de criança que só se alimenta na escola. Em casa não tem o que comer”, lembra a professora da rede pública, Rafaele Paulazini. Durante a pandemia, algumas escolas, como a CEI Vila Perus e a DRE Pirituba, arrecadaram alimentos para as famílias: “a ação que a gente mais fez nessa época de pandemia foi arrecadar alimentos para oferecer para essa comunidade”, diz a professora.

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