Com o aumento do número de pessoas endividadas no Brasil, o ensino de educação financeira seria uma ferramenta para retirar as pessoas da pobreza e transformar a situação socioeconômica do país.
Por Felipe Velames
[Imagem: Reprodução/Flickr]
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o número de brasileiros endividados no mês de Junho chegou a 77.3% do país, um aumento de cerca de 10.9% se comparado ao ano passado. Outro dado apontado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em sua pesquisa de maio foi que o principal responsável pelos endividamentos é o cartão de crédito, pois 86.6% das dívidas foram feitas por ele.
Diante desse cenário do crescimento de dívidas no Brasil e um possível descuido com o cartão de crédito, cresce a importância da educação financeira, uma disciplina cujo objetivo é ensinar aos estudantes formas de organizar o seu dinheiro. No entanto, como o ensino de educação financeira só passou a ser obrigatório nas escolas em 2020, muitos jovens e adultos só conseguiram obter contato com esse assunto e essas informações recentemente em suas vidas.
Formas alternativas de ensinar a educação financeira
A NoFront, comandada por Gabriela Chaves e por Rodrigo Dias, tem como objetivo promover o empoderamento financeiro da comunidade negra periférica [Imagem: Divulgação/Instagram]
Para amenizar a falta de acesso à educação financeira por uma grande parte da população que não aprendeu sobre esse assunto tão importante nas escolas, existem projetos que oferecem cursos sobre o assunto em comunidades carentes ou mesmo perfis de redes sociais que gravam vídeos com dicas para as periferias. Um dos perfis voltadas para educação financeira na internet é o NoFront Empoderamento Financeiro, feito por jovens negros periféricos, que oferecem cursos, vídeos no YouTube e dicas em seu perfil de Instagram sobre o assunto.
O que chama a atenção no NoFront e o difere de outros perfis sobre educação financeira na internet é o enfoque do assunto voltado para a periferia e sobre assuntos financeiros periféricos. Como explicita em seu site, o objetivo da equipe é utilizar o ensino da educação financeira para emancipar o povo preto e acabar com a desigualdade social.
“O racismo estrutural e a desigualdade de acesso nos obrigam a deixar sonhos para trás e nos restringem a viver apenas para pagar contas.” conta o perfil em um trecho de seu site “Com o método de ensino ‘Rap e finanças’ você transforma o dinheiro em aliado, na busca de uma vida digna.
Uma educação financeira voltada para a periferia
Mas por que deve existir uma educação financeira voltada exclusivamente para uma comunidade periférica e uma diferenciação se comparada com um outro curso de educação financeira “normal”? De acordo com Adriana Marcelino, uma empreendedora, estudante de educação financeira e dona Ateliê DK (um salão voltado pessoas negras, especializado em tranças e cabelos cacheados/crespos), o principal motivo para que ocorra essa separação dos cursos é o fato de você estar lidando com duas realidades completamente diferentes e opostas.
Adriana também afirma que o curso de educação financeira voltado para a comunidade periférica deva ser adaptado à realidade periférica, seja na questão da linguagem, quanto na questão de exemplos e até mesmo no ensino. Somente assim, as escolas que ensinam essa matéria para as crianças ou as ONGs que ensinam a mesma matéria para os adultos conseguirão “funcionar” de maneira efetiva.
A educação financeira muda vidas
De acordo com a filosofia da dona do ateliê DK, assim como a educação financeira consegue liberar e dar poder para as pessoas, a trança em uma mulher negra é capaz de empoderá-la e liberta-la [Imagem: Divulgação/Instagram]
Outro ponto que a empreendedora abordou é a necessidade da educação financeira ser ensinada nas escolas desde o ensino primário, para que as crianças consigam aprender a cuidar de seu próprio dinheiro desde pequenas. Dessa forma, elas não “ficaram à mercê do governo” e "conseguiram superar crises financeiras de uma forma mais tranquila”, pois elas possivelmente “terão dinheiro guardado para esses possíveis imprevistos”.
Além disso, Adriana aponta como a educação financeira possui um papel transformador na vida das pessoas, conseguindo “salvar a vida de inúmeras pessoas e retirá-las da pobreza”. Por conta disso, os planos econômicos do governo devem ser acompanhados de um plano de educação financeira, para que as pessoas e a própria comunidade como um todo consigam "mudar a sua situação socioeconômica".