Criado em 1996, o projeto Escola Itinerante surgiu a para garantir o direito à educação de crianças, adolescentes e adultos que se deslocam temporariamente, e que lutam pelo desapropriação de terras improdutivas
Por Beatriz Pecinato
Imagem: Reprodução/MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, conhecido como MST, é um movimento ativista que luta, principalmente, pela reforma agrária e pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É um projeto anticapitalista que debate questões ambientais. Além de atuar no assentamento de terras e na produção de alimentos orgânicos, o MST também tem projetos voltados para a educação.
Desde sua fundação, que aconteceu em 1984, o MST inclui os projetos de educação como uma das áreas prioritárias de sua atuação. Como prioridade, o movimento investe na luta pela universalização do direito à escola pública de qualidade social, desde a infância até a universidade. Seu objeto é construir coletivamente conjuntos de práticas educativas direcionadas a projetos sociais emancipatórios, protagonizados por trabalhadores.
Atualmente, o MST construiu nos acampamentos e assentamento mais de duas mil escolas públicas, possibilitou que mais de 200 mil crianças, jovens e adultos tivessem acesso à educação, alfabetizou mais de 50 mil adultos, e promove mais de 100 cursos de graduação em parceria com universidades públicas por todo o país.
Escolas Itinerantes
O MST administra o projeto Escolas Itinerantes, que foi criado para garantir o direito à educação de crianças, adolescentes e adultos que se deslocam temporariamente, e que lutam pelo desapropriação de terras improdutivas. A escola, além de ser voltada para toda a população itinerante, também tem a função de ser um centro de encontros de toda a população acampada.
De acordo com Valter Leite, dirigente nacional do setor de educação do MST, o embrião da concepção da Escola Itinerante surgiu nas primeiras ocupações de terra realizadas nas décadas de 80, antecessoras da consolidação do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “As famílias sem-terra na ocupação da Encruzilhada Natalino em 1981, já se preocupavam com a educação e desenvolviam práticas educativas com o intuito do cuidado com as crianças e de possibilitar a elas compreenderem a luta em que forçosamente participavam” explica Leite.
Antes da criação efetiva do projeto, outros acampamentos nas décadas de 80 e 90 já exercitavam práticas educativas, a partir da alfabetização de jovens e adultos, e da luta por acesso à escola nos arredores das ocupações.
Foi então, em 1996, a partir de um projeto aprovado pelo Governo do Rio Grande do Sul, que o Escolas Itinerantes se tornou realidade. Seu surgimento acontece a partir da necessidade de ter uma escola que caminhasse junto, realizasse a itinerância e acompanhasse o movimento territorial das famílias acampadas, “para assegurar o direito à escolarização das crianças, jovens e adultos que vivem nos acampamentos” diz Valter Leite.
Atualmente, segundo o dirigente nacional, a Escola Itinerante encontra-se em funcionamento apenas no estado do Paraná. Ano que vem, a escola itinerante desse estado completará 23 anos de funcionamento. Para o dirigente nacional, este marco representa o sucesso de luta do movimento, a organização coletiva, a gestão comunitária e a resistência nas ocupações de terras do Paraná.
Nesses 19 anos, existiram 26 Escolas Itinerantes no Paraná que atenderam aproximadamente 16 mil crianças, adolescentes, jovens e adultos Sem Terra que tiveram oportunidade de frequentarem a escola. Isso desenvolveu nos estudantes um gosto pela escola e pelo trabalho, o que colaborou para a socialização e apropriação do conhecimento, o que afetou positivamente no desenvolvimento dos acampamentos.
Imagem: Reprodução/MST
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