Por Mateus Cerqueira
Manifestações nas vias públicas se tornaram a expressão mais clara da democracia. Reivindicações políticas, sociais e econômicas são os fatores de atração dos cidadãos às ruas, em que tanto a direita quanto a esquerda encontram espaço para defesa dos seus ideais democráticos de sociedade. Contudo, no Brasil, as vias públicas ganharam um novo
caráter no dia da Independência do país: a vitrine de pautas antidemocráticas travestidas de reivindicação cidadã.
Na Avenida Paulista, no temido 7 de Setembro, a marcha incendiária seguiu da Praça dos Ciclistas até a Avenida Brigadeiro Luíz Antônio aos berros e com cartazes que exigiam o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal), intervenção militar liderada por Bolsonaro, criminalização do comunismo, uma nova interpretação da liberdade de expressão, dentre outras pautas exóticas. Quando questionados do porquê de sua participação e se o ato era pela democracia, os participantes da marcha estufaram os peitos e diziam em alto e em bom tom que estavam ali pela liberdade do povo, do presidente e que sim, a concentração era pela “democracia” do Brasil. Uma democracia à la Bolsonaro.
As respostas impressionaram. Uma controvérsia digna do bolsonarismo. Mas, na prática, a
concentração pró-governo na Paulista e demais capitais representou muito mais do que apenas uma distorção do termo “democracia”, ela representou o enfraquecimento dos próprios pilares constitucionais e democráticos do país. Trinta e seis anos depois do fim da
ditadura militar, nunca nos sentimos tão ameaçados como nos sentimos agora com a possível ruptura institucional subentendida na fala do presidente e aclamada pela massa de seus apoiadores nos atos. Mas aí vem a pergunta: então os bolsonaristas devem ser barrados de ir às ruas? De modo algum, por mais que não queiram a real democracia, eles são cidadãos e gozam do direito à livre expressão de pensamento. O problema são os excessos e a mentalidade autoritária que se pauta no “velho mundo”.
Mas o que fazer? Vejamos o exemplo da Alemanha. Enquanto no país europeu manifestações antidemocráticas centradas no nazismo são cabíveis de justiça, no Brasil, políticos, celebridades e cidadãos comuns ainda encontram espaço para fazer apologia à ditadura militar. Este fenômeno sociológico só pode ser explicado pela ausência de referências históricas e pelo espaço que lideranças fascistas ainda encontram na política para disseminar o ódio. O resultado não é outro, senão o de instabilidade institucional em que a desigualdade, o conflito e a ascensão de ideais um tanto perigosos à liberdade batem à porta. A convergência perfeita ao presidente que tem no caos o seu modus operandi, em que se culpa os demais poderes e a oposição de todos os problemas do país. A culpa nunca foi dele...
É nesse ponto que devemos estabelecer limites. Liberdade de expressão é um direito democrático e não uma arma contra a democracia. Seja de direita ou de esquerda, nenhum movimento pode desrespeitar a constituição, reavivar preceitos autoritários ou asfixiar a oposição. Lembremos que movimentos populares aplaudiram o nazismo, o fascismo e que isso custou caro ao mundo. O Brasil não precisa seguir este mesmo caminho.
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