Evasão escolar pode aumentar devido à pandemia
Por Juliana Matias
A evasão escolar nas escolas dos bairros periféricos sempre foi grande, mas em 2020 estima-se que ela será maior. Desde o início do distanciamento social, em março, as secretarias de educação do país todo vêm tentando formular alternativas ao estudo presencial, com aulas à distância, entrega de livros e outras medidas. Contudo, implantar isso de maneira justa no Brasil é um grande desafio devido ao tamanho do país, à diversidade e à desigualdade.
Com a pandemia e a crise econômica, os mais atingidos são as populações das classes populares. Uma pesquisa feita pelo IBGE mostrou que ainda existem 11 milhões de analfabetos no Brasil e entre a população negra os números são maiores. Outro estudo do mesmo instituto mostrou que a população negra representa 75% dos mais pobres. Dessa forma, vê-se que os dados se relacionam e formam um perfil.
Na pandemia, a estimativa é de que a evasão aumente. Roberta Affini, diretora da Escola Estadual Doutor André Cortez Granero, em Guaxupé, Minas Gerais, explica as estimativas para a escola: “A escola tem um nível de evasão que gira em torno de 8 a 10%. Esse índice é maior no Ensino Médio. Para esse ano ainda não saiu nossa porcentagem, mas eu acredito que vai ser maior, porque muitos alunos deixaram de fazer as atividades com o início da pandemia”.
Existem vários obstáculos que impedem estudantes de bairros periféricos continuarem seus estudos. Elizabeth Hautz, professora do cursinho pré-vestibular social INVEST, no Rio de Janeiro, cita algumas das dificuldades:
“Muitos alunos não têm acesso à internet, outros acabam não assistindo às aulas, por conta da tendência à dispersão que o ensino à distância envolve”.
Tentativas de inclusão
Segundo Roberta, o governo estadual mineiro implantou alguns métodos de estudo que tentam abranger todos estudantes. Na escola em que ela leciona, os alunos podem realizar as atividades de maneira online ou física. Foram criados grupos de WhatsApp com aqueles que têm acesso à internet. Aos que não têm, um motoboy entrega as atividades impressas. Além disso, a população rural também é atendida com os exercícios impressos por meio de uma parceria da escola com a prefeitura, que faz a entrega do material.
Já no Rio, Elizabeth afirma que as escolas públicas e as populações por elas atendidas encontram-se em situação precária. "No que se refere à educação universitária, a UERJ fez algumas alterações pontuais, mas não observei nenhum programa abrangente e estruturado que fosse voltado para amenizar as consequências da pandemia na educação pública”, explica.
O amanhã
A evasão pode, futuramente, trazer consequências negativas na vida da população que abandona a escola. Elizabeth destaca: “Infelizmente essa evasão tende a aumentar ainda mais o fosso social e econômico da nossa sociedade. Acredito que o único meio que dispomos para diminuir as desigualdades sociais é a educação. Sinto-me muito triste ao constatar que a ampliação do acesso ao ensino e à universidade pública, fruto de programas dos governos anteriores, está passando por um processo de retrocesso enquanto o setor de educação privada está se fortalecendo. O processo de mercantilização da educação é algo preocupante”.
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