Falta de verbas, poucos professores, unidades em falta e grande responsabilidade das professoras são algumas das dificuldades enfrentadas no dia a dia das creches da periferia de São Paulo.
Por Julia Estanislau
Professoras reunidas em uma sala do CEI Vila Perus. [Imagem: Fabiana Barbosa / Projeto Político Pedagógico CEI Vila Perus].
Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2021 apontam que, em 2019, 37% das crianças de 0 a 3 anos estavam na escola. Dentro da parcela mais pobre da sociedade, esse número chega a 27,8% e, entre as famílias ricas, sobe para 54,3%.
O problema, porém, não se esgota nas porcentagens. A desigualdade é também sentida dentro do próprio sistema público de creches e CEIs (Centro de Educação Infantil). Para Fabiana Barbosa, coordenadora do CEI Vila Perus, o maior problema das creches é que a demanda por vagas e as matrículas das crianças são muito superiores ao número de professoras e cuidadoras: São Paulo concentra, hoje, 409 creches municipais, enquanto o número de matriculados supera os 54 mil. Na rede municipal, são 9.150 professores, enquanto na privada são 24.930.
Isso acaba por diminuir a qualidade da atenção dada individualmente para cada criança. “Só que com isso você superlota salas. Crianças de zero a um ano de idade são sete bebês para uma professora. Crianças um pouquinho maiores, de um ano até dois anos, mais ou menos, são nove bebês para uma professora”, diz Fabiana.
Além disso, a estrutura das escolas é de extrema importância para uma boa educação. Muitos dos CEIs, principalmente os conveniados, estão alocados em casas adaptadas, sem uma estrutura específica para receber crianças. Outros, não possuem brinquedos, banheiros adequados ou área externa. “Essa questão estrutural atrapalha bastante a gente colocar o currículo em prática”, lembra a coordenadora.
Outro relato da educadora é em relação às verbas. A Prefeitura específica com o que a verba enviada a cada escola poderá ser gasta e, mesmo se outra área precisasse ser favorecida pelo dinheiro, não há a possibilidade de gastar com isso. Em 2021, foram disponibilizados às escolas da rede municipal R$504 milhões. Esse valor, porém, “nunca é suficiente para tudo que precisa fazer”, diz Rafaele Paulazini, professora da DRE Pirituba.
A professora também relata que uma das dificuldades encontradas pelos educadores é a falta de relacionamento com os pais. Como o trabalho com as crianças é feito todos os dias e a partir de uma idade pequena, é importante dar continuidade a ele em casa. Com isso, vem também uma grande responsabilidade para as cuidadoras: "A gente vê essa criança aprendendo a comer sozinho, a gente vê essa criança falando as primeiras palavras, então é um vínculo muito forte”, comenta Rafaele.