As dificuldades da jornada diária de mulheres que cuidam dos filhos, da casa e trabalham.
A realidade das mulheres que precisam trabalhar e cuidar dos filhos nunca foi fácil, as chamadas mães solo. Porém, com a crise sanitária que se instalou no Brasil desde março de 2020, os desafios dobraram. Além da dupla jornada de trabalho, elas tiveram que lidar com o fechamento de creches e escolas, a ameaça do coronavírus e o desemprego.
Essa nova jornada diária impactou diretamente na participação das mulheres no mercado de trabalho. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), durante a pandemia, a participação de mulheres decaiu para os números observados em 1990. No caso das mulheres com filhos de até 10 anos, a taxa de participação foi de 58,3% no segundo semestre de 2019 para 50,6% no mesmo período de 2020.
Para Grazyella Cunha, pedagoga e mãe de três meninos - 19, 16 e 8 anos -, a dificuldade na jornada dupla é conciliar o tempo entre os filhos e a organização da casa. “Na pandemia, a maior dificuldade para mim foi com quem deixar meu filho menor, tendo que ir trabalhar e sem escola para deixá-lo, e até mesmo a preocupação com a saúde dele”, diz. Trabalhando em uma creche particular, em Embu das Artes, ela explica que muitas mães reclamam que não tem onde deixar os filhos, uma vez que estão utilizando o sistema híbrido, em que 35% das crianças estão presentes e as demais realizam atividades em casa, com o acompanhamento dos responsáveis.
A solução para algumas dessas mães é deixar os filhos na casa de familiares ou vizinhos, o que coloca em exposição ao vírus tanto as crianças, quanto as pessoas que se dispõem a cuidar delas. Apesar de estarem cientes dos perigos, muitas mães não têm outra opção. Mesmo o auxílio emergencial sendo maior para mães solteiras (R$1.200,00), o valor ainda não é o suficiente para garantir a estabilidade financeira das famílias.
Mães solo e o ensino remoto durante a pandemia
No início da pandemia no Brasil, as escolas deram continuidade às aulas de modo totalmente online, essa mudança repentina começou de forma problemática: muitos alunos não tinham acesso aos equipamentos necessários para acompanhar as aulas, e os que possuíam, não tinham total disponibilidade para usar. Além dessa falta de acesso aos materiais necessários, também é válido citar as dificuldades que as crianças têm de acompanhar os conteúdos de forma remota. A recomendação de muitos professores é de que os pais estejam presentes na vida escolar das crianças e que as ajudem com as atividades, mas isso é um privilégio que muitas mães não têm devido à necessidade de voltar ao trabalho durante a pandemia.
Muitos professores foram lançados no sistema de ensino remoto sem ter noção do funcionamento e da dinâmica das aulas, por conta da quarentena inesperada no país, não foi possível ter um preparo e instruções muito detalhadas para esses professores. Mas assim como eles, as mães também não foram bem instruídas, e as que foram, não tem condições de cumprir as orientações. Conforme pesquisa realizada pela Gênero e Número, sobre mulheres na pandemia, 77% das mulheres que cuidam de filhos de até 12 anos consideram que houve aumento do cuidado. Essa atenção é dividida entre atividades educacionais (61%) e lazer (65%), segundo as entrevistadas com renda familiar de 3 a 5 salários mínimos.
Apesar da importância de zelar pela saúde das crianças e dos professores, é impossível conciliar a não reabertura das creches com a normalização de outros setores, já que no Brasil existem cerca de 11 milhões de mães solteiras, de acordo com o IBGE. A frágil situação coloca um impasse entre a necessidade da abertura das escolas e a saúde das famílias afetadas diretamente pelo coronavírus, social e financeiramente.
De acordo com o Governo do Estado de São Paulo, a cidade de São Paulo conta com 41,15% de sua população vacinada. Com a imunização de profissionais da educação e antecipação do calendário de vacinação, o fim do ensino remoto nas creches e escolas está previsto para agosto de 2021.
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