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Por Damaris Lopes e Murillo Cesar Alves

O tripé família, escola e esporte para sustentar os sonhos na São Remo

O Central Periférica conversou com os organizadores do Projeto Social Escolinha de Futebol Catumbi a respeito do desenvolvimento social dos alunos junto ao esporte


Por Damaris Lopes e Murillo Cesar Alves


[Imagem: Guilherme Valle]

A paixão pelo futebol habita no coração dos brasileiros que vivem em diversos estados, cidades e bairros do país. Contudo, as regiões periféricas são, historicamente, berços de grandes jogadores, como Romário, Neymar e Marta, além de abrigarem centenas de times que buscam transformar sonhadores em jogadores. Em janeiro de 2014, na comunidade Jardim São Remo, na Zona Oeste da capital Paulista, nasceu o Projeto Social Escolinha de Futebol Catumbi, o qual se tornou sede para o desenvolvimento profissional e pessoal de meninos e meninas da região.


[Imagem: Guilherme Valle]

A escolinha possui categorias de base para crianças a partir dos quatro anos de idade, até adolescentes de vinte e um anos, os quais aprendem muito mais do que a prática esportiva. O presidente do Projeto, Luis Marcos dos Santos Silva, mais conhecido como professor Lula, aponta: “A ideia é interagir no tripé, queremos saber como o garoto está em casa, na escola e no projeto. Têm momentos que eu vou na escola para saber como estão as notas e o comportamento. A gente tenta dialogar com eles que o estudo é muito importante”.


Muito além do futebol


Foi graças a esse olhar para além do desenvolvimento esportivo que, em 2018, a escolinha começou a buscar formas para auxiliar as necessidades básicas dos alunos. “Eu percebi que alguns chegavam para treinar de manhã e reclamavam de dor de cabeça e tontura, ou seja, eles estavam sem comer. Então, começamos a entender que tínhamos que dar um pãozinho e um suco. Foi assim que iniciamos na área social da garotada”, Lula relata.

[Imagem: Guilherme Valle]

Além da alimentação antes dos treinos, o projeto também procura meios para apoiar o seio familiar dos jogadores. Em julho de 2018, a equipe começou a distribuir cestas básicas, frutas e materiais esportivos individuais e coletivos, com o objetivo de viabilizar que os alunos encontrassem um apoio amplo que possibilitasse a permanência de forma mais segura e confortável no projeto.


No entanto, como o Projeto Social Escolinha de Futebol Catumbi ainda não possui toda a documentação necessária para receber financiamento governamental, a equipe administrativa dedica-se de diversas formas para custear as despesas. Livia Sousa, voluntária no projeto há sete anos e filha do presidente Lula, expõe: “Nossa arrecadação principal é através dos pais dos alunos. A gente pede a colaboração deles para ajudar com alguma quantia e também fazemos rifas na comunidade”.


Eles também contam com o apoio coletivo dos moradores do Jardim São Remo. “As nossas doações vêm também do boca a boca com meninos que já foram meus alunos e do pessoal da comunidade. Nós temos a parceria com a padaria do Elton que nos ajuda com os pães todo final de semana, também contamos com o mercadinho São Remo que nos ajuda diretamente”, Lula afirma.

[Imagem: Mateus Cerqueira]

Mesmo não possuindo um patrocinador ou custeador fixo, o projeto cativa e envolve toda a periferia da São Remo. Isso porque os benefícios são perceptíveis aos familiares dos garotos e garotas que participam do projeto, pois com a ideia do tripé família, escola e campo os alunos estão conseguindo desenvolver tanto a parte esportiva quanto a de cidadãos sociais.


Obstáculos na Pandemia


Com a pandemia, o Projeto Social Escolinha de Futebol Catumbi sofreu perdas consideráveis. Lula conta que, além das dificuldades sanitárias e financeiras, o principal obstáculo era não poder trazer os garotos para o campo, como de costume. “Eles tinham que ficar restritos em casa, porém a casa é pequena, a casa sendo pequena, como é que eu vou acomodar meus filhos num espaço tão pequeno”, relata.


Em meio a esse cenário, buscou-se ampliar essa área social, expandindo-a para toda a comunidade, para além das famílias das quais seus filhos já faziam parte da escolinha. Através de doações de cestas básicas e ajudas financeiras, o Projeto conseguiu manter sua essência viva durante esse período.


Além disso, para 2022, a intenção é expandir ainda mais as áreas de atuação do projeto. Alguns dos exemplos são aulas de informática e reforços escolares, para melhorar o currículo das crianças para o futuro, sempre com a ajuda e o ensino de profissionais capacitados e gabaritados para o trabalho.


O que o projeto simboliza?


O caminho é longo, mas Lula não desistiu dos seus sonhos: “Meu pai me abandonou, quando tinha 11 anos. Hoje eu sou um professor formado. Com essas palavras, eu busco incentivá-los a persistirem; quando sentirem fraqueza, a se fortalecerem.”


Ao chegar em 2021, esse passado e trajetória ainda emocionam Lula. Com sua história de vida, o professor busca encorajar seus alunos através do projeto: “Nunca foi somente futebol; as crianças têm sonhos, e nós queremos realizá-los.” Para Lula, a favela não pode ser um obstáculo para alcançar os objetivos e realizar os seus sonhos.


“Pode ser um passeio no Pacaembu ou chegar numa Taça das Favelas: a gente quer tornar isso tudo possível.” Dessa mesma forma, além de jogadores, a intenção é formar cidadãos independentes. Através dessa humildade, sempre com os “pés no chão”, a lição principal é de responsabilidade, respeito e simplicidade.

[Imagem: Damaris Lopes]

O projeto envolve tornar esses sonhos possíveis. Nesses sete anos, ele mudou a vida de centenas de crianças, assim como a do próprio Lula; nos que virão, a intenção é manter o respeito. E independente do resultado, “ganhando ou perdendo, ver a felicidade, a emoção dessa criançada, é o que faz valer a pena, todo o esforço.”


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