Time de futebol feminino de várzea, Perifeminas, vai além das quadras e se torna um espaço de luta contra a opressão de gênero no futebol periférico
Por Sthefanie Lacerda e Gustavo R. da Silva
Tamires, jogadora profissional do Brasil, em atuação nas Olimpíadas.
[Imagem: Agência Brasil Fotografias / Reprodução Wikimedia Commons]
Quando se trata de moradoras de periferias que praticam o esporte, os problemas vão além dessa questão. O futebol de várzea – não profissional – é uma prática presente em muitas periferias brasileiras e, além de servir como um momento de lazer e entretenimento para os moradores, alimenta sonhos e nutre esperanças.
Dentro desses espaços há times que se organizam para competir entre si, e as mulheres também estão incluídas nisso. Um exemplo dessa organização feminina é o Perifeminas, time de futebol que surgiu em 2014 a partir de jogos de entretenimento entre homens e mulheres dentro do bairro da Barragem, em São Paulo.
Uma das coordenadoras e atleta, Sidineia Aparecida Chagas, conta que ela e suas irmãs fundaram o time, e que ele vai além das quadras, atuando na área educacional, cultural e política. “Nós somos fundadoras da biblioteca comunitária Caminhos da Leitura, então já temos grandes referências do meio literário, da cultura e da educação, então a gente falava assim: ‘não dá para permitir que nesse espaço seja mais um espaço de opressão”, conta a coordenadora.
Motivado por esses ideais, o Perifeminas superou diversos obstáculos ao longo de sua história, como a dificuldade em reunir mulheres para jogar. “Muitas meninas acabavam relatando que não podiam jogar bola porque tinham filhos, estavam grávidas, ou porque tinham afazeres, ou porque a própria família achava que a prática esportiva tinha muito a ver com a orientação sexual, que isso poderia ser uma influência ou que o futebol em si não é prática do gênero feminino”, ressalta.
As dificuldades impostas pelo machismo estão presentes na modalidade feminina como um todo, que ainda é desvalorizada, apesar do aumento de visibilidade nos últimos anos. Mesmo com grandes patrocinadores e transmissões na TV aberta, os valores ainda são muito inferiores aos aplicados na modalidade masculina.
Apesar das violências sofridas, o Perifeminas resiste e continua sendo um espaço que tem como objetivo a prática do futebol feminino e o acolhimento das meninas. “A gente quer ser essa referência para as meninas, para que elas possam em qualquer problema, em situações que elas estejam vivenciando em suas vidas, elas encontrem no Perifeminas esse espaço, essa rede de apoio, de acolhimento, de proteção, de que elas possam contar com a gente em qualquer situação que ela seja vivenciando em suas vidas”, destaca Sidineia.
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