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Boulos: Nunes entregou cidade para grandes construtoras

Atualizado: 13 de nov. de 2023

O deputado federal e pré-candidato à prefeitura da capital paulista, comentou sobre as dificuldades da cidade rumo à eleição do ano que vem


Por Gabriel Carvalho


O deputado federal Guilherme Boulos, pré-candidato a prefeito de São Paulo, esteve no Butantã, Zona Oeste de São Paulo, no dia 20 de outubro, acompanhado de militantes do Movimento Salve São Paulo. Pela manhã, concedeu uma entrevista coletiva para jornalistas locais e portais comunitários da região. Boulos comentou sobre a revisão do plano diretor da capital no que diz respeito à moradia e à preservação ambiental, além de criticar ações do atual prefeito, Ricardo Nunes.


“O que aconteceu na prática é que o prefeito e um grupo de vereadores da cidade de São Paulo entregou a cidade para algumas grandes construtoras", afirmou o deputado. Ele ainda disse que "quando o Haddad fez o plano diretor de 2014, a ideia era adensar mais as regiões perto do metrô e do corredor de ônibus, reduzindo as vagas de garagem para estimular o uso transporte público e colocar uma cota de habitação de interesse social nessas regiões para buscar evitar segregação, fazendo com que essas regiões com mais infraestrutura e com mais serviço sejam utilizados por toda a população.”


Boulos defende que a revisão do plano diretor existe para correções em caso de excessos. Mas, para ele, "o que aconteceu foi o contrário: o plano de 2014 acabou abrindo margem para outras coisas." Ele conta que "liberaram um eixo maior em relação às estações de metrô e aos corredores de ônibus, aumentaram as vagas de garagem e onde esse monte de betoneira não tá chegando ainda, vai passar a chegar. É um cálculo fácil da gente fazer: suponhamos que em um terreno tinham oito casas que foram demolidas para dar lugar a um prédio com oitenta apartamentos. Onde antes tinha oito famílias, agora vai ter 80. Onde tinha oito carros, vai ter 80, e a rua permanece a mesma.”


As vereadoras Silvia Ferraro (PSOL), e Luna Zarattini (PT), que estavam presentes junto à caravana, também comentaram sobre a revisão do plano diretor.


“É importante dizer que tudo isso que o Guilherme falou aconteceu sem a participação popular, sem democracia. Todas as audiências públicas que eram chamadas não foram levadas em consideração, e a gente tá vendo isso se repetir. Essa semana na Câmara, começou a tramitar novamente a lei da revisão do zoneamento, e mais uma vez houve um atropelo: nós propusemos ao menos uma audiência pública por Subprefeitura, visto que a lei de zoneamento é mais complexa, visto que ela analisa lote a lote, mas a proposta foi recusada”, disse a vereadora do PSOL.


Luna, vereadora pelo PT, complementou a fala criticando o atual prefeito: “Esse plano diretor e essa revisão escancararam esse projeto privatista do Ricardo Nunes, um projeto de entrega da cidade que não resolve as grandes demandas. A cidade continua crescendo e se expandindo, e as pessoas vêm morando em áreas não apropriadas e longe dos equipamentos públicos.”


Ambas votaram contra o projeto apresentado na Câmara.


Meio Ambiente e Moradia

Questionado sobre a canalização dos córregos do Butantã sobre áreas de mata ciliar e sobre como seria a relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento urbano numa possível gestão do psolista, Boulos falou sobre propostas urbanas de moradia para a cidade.


“O mundo todo hoje tá debatendo aumento de áreas permeáveis, é isso que nós temos que fazer na cidade de São Paulo. O debate em torno de Córregos precisa ser prioritariamente de parques lineares, nós queremos recuperar essa ideia. E é aí que nós temos que enfrentar a falsa dicotomia entre moradia e meio ambiente, porque às vezes as pessoas parecem crer que alguém que vai morar numa palafita ou num barraco na beira de um córrego faz isso porque quer.”


Para o pré-candidato, “se a gente faz uma política decente de moradia popular focada em áreas de risco, e hoje o total de áreas de risco na cidade de São Paulo equivale a 12 vezes a área do Parque do Ibirapuera, você libera espaço garantindo o direito à moradia. A Prefeitura não pode estimular a ocupação desordenada dessas áreas, mas tampouco pode despejar pessoas sem dar alternativa de moradia. Nós temos que ter um plano. Quem tá na beira do córrego tem que sair, e tem que sair com chave na mão.”


Sobre a implementação de novas tecnologias na gestão ambiental, Boulos citou o uso de materiais que podem aumentar as áreas permeáveis da capital e citou projetos para a integração de políticas ambientais com políticas de moradia.


“A política de aumento das áreas permeáveis na cidade e de drenagem de forma geral também está ligada a quais materiais são utilizados. Hoje nós estamos vendo 4 bilhões em recapeamento, e não se fala, por exemplo, em bloco de encaixe, em asfalto permeável. Hoje, você tem uma série de tecnologias que são mais permeáveis para calçada e para a rua e que estão fora da agenda da prefeitura."


O deputado conta a sua experiência neste assunto: “Eu fui vice-presidente da comissão mista do Minha Casa Minha Vida lá na Câmara Federal e apresentei a emenda de um Subsídio Verde que foi aprovada e já está em vigor. O empreendimento que usar cimento ecológico, energia solar, ou que usar água de reuso, vai receber um adicional da Caixa Econômica Federal. Assim, você estimula que as construtoras que empreendem na Minha Casa Minha Vida utilizem essas tecnologias.”


Trajetória

Boulos afirmou que está ansioso para “comparar biografias” com Ricardo Nunes, chegada à época de eleição.


“Eu vou dizer com cabeça erguida o que que eu fiz nos últimos 20 anos do lado do povo que mais precisa, lutando por moradia digna, lutando pelas cozinhas solidárias para combater a fome, garantindo mais de 15 mil moradias populares para o povo que lutou no movimento sem teto. Eu tenho orgulho da minha trajetória no movimento e não vou esconder ela de ninguém. Eu quero ver se o prefeito tem orgulho do que ele fez nos últimos 20 anos, já que boa parte das pessoas não sabe o que foi. Como é que ele entrou na política? Como começou a relação dele com Michel Temer no porto de Santos? Como foi a atuação dele como vereador em relação algumas associações de creche conveniadas na zona sul de São Paulo?”


O deputado também questionou a inação da prefeitura durante o governo do atual prefeito, e comentou sobre a experiência pessoal que carrega após anos junto dos movimentos sociais.


“O que ele fez como Prefeito nesses três anos e meio? É essa discussão que nós vamos querer fazer. Boa parte da cidade de São Paulo já me conhece, às vezes a partir da caricatura, do meme. A cidade não conhece a trajetória e nem a origem do do atual prefeito.”


“Se fala muito de experiência administrativa, de conhecer a máquina. É importante para isso ter equipe, ninguém governa sozinho. Agora a experiência que mais vale, do meu ponto de vista, é a experiência de relação com o povo. De tratar as pessoas não como número, não como estatística, não como objeto de estudo, de tratar as pessoas como gente. Eu conheço a periferia da cidade não é porque ouvir dizer, é porque essas pessoas são meus vizinhos, são as pessoas que eu convivo e que eu convivi no movimento social nos últimos 20 anos. O maior desafio que nós vamos ter é justamente combater as desigualdades na nossa cidade e fazer uma cidade mais humana.”


Desinformação

O pré-candidato falou também sobre as estratégias da sua campanha para combater a desinformação acerca da sua imagem, e analisou as mudanças no cenário político que o permitiram alcançar o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para 2024.


“Nós estamos produzindo videozinhos curtos de um minuto, no máximo dois para explicar cada uma dessas questões de forma didática e de forma simples, com o objetivo claro de desmentir fake news. Nós vamos difundir esses materiais nas nossas redes sociais e nas redes do movimento Salve São Paulo para que esses materiais possam circular desde já como uma maneira da gente fazer um enfrentamento, porque sempre foi uma disputa desigual, isso não é novidade. Eles vão comprar mídia a torto e a direito, e nós vamos ter a nossa rádio peão, nós vamos ter as pessoas conversando com vizinhos, conversando no ponto de ônibus.”


Sobre o cenário de mudança, Guilherme Boulos atribuiu a possibilidade de vitória a um enfraquecimento da extrema direita na cidade e um desejo de mudança por parte dos eleitores da capital.


“Em 2020, você tinha um caldo de extrema direita forte no país. Quem está aqui sabe que entre 2018 e 2020, era difícil sair com uma camiseta vermelha na rua, o cenário do país era outro. Ano passado Lula e Haddad ganharam aqui na capital, a cidade deu um recado de derrota do bolsonarismo e de um processo de construção de uma mudança. Eu acho que a nossa candidatura do ano que vem vai ter o desafio de traduzir esse desejo e sentimento de mudança na cidade, de completar a derrota bolsonarista aqui.”


O deputado lidera as pesquisas com 32% de intenção de voto no primeiro turno, seguido pelos 24% do atual prefeito, Ricardo Nunes. O levantamento foi feito pelo Instituto DataFolha no final de agosto.

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