Iniciado em 18 de junho, o torneio conta com 32 times masculinos e 16 femininos que representam as comunidades do município paulista.
Por Emanuely Benjamim
Cerimônia de abertura da Taça das Favelas 2022. [Imagem: Emanuely Benjamim]
A cerimônia de abertura da Taça das Favelas Campinas 2022 aconteceu na Praça de Esportes do São Bernardo no dia 18 de junho. Interrompido devido à pandemia, o campeonato campineiro reúne 48 times de futebol, feminino e masculino, das comunidades da cidade. O encerramento está previsto para o dia 23 de julho e as finais acontecerão no Estádio Moisés Lucarelli.
O evento esportivo que é promovido pela prefeitura e pela Central Única das Favelas (Cufa), foi idealizado por Henry Paulino, que faleceu em 2020 vítima de um ataque cardíaco e foi homenageado durante a cerimônia de abertura pela seleção do Campo Belo. A Ponte Preta, time mais antigo do Brasil, apoia o evento, cedendo não só seu estádio para a final, mas acompanhando os jogos com olheiros para captar novos talentos.
“É o segundo ano que a Ponte abraça a Taça das Favelas”, diz André Carelli, assessor direto do presidente da Associação Atlética Ponte Preta. “Nela, a gente consegue pinçar vários atletas, então nossos olheiros e captadores estão aqui e com certeza vamos colher bons frutos. Não só a Ponte, mas também outros clubes”. Ele ainda conta que, na primeira edição, foi contabilizado um público pagante de 15 mil pessoas no jogo de encerramento.
Times aguardando o início da cerimônia de abertura [Imagem: Emanuely Benjamim]
A competição representa uma oportunidade para os jovens periféricos que desejam seguir com a carreira esportiva. Airton Júnior, meia de campo do Jambeiro, é um exemplo disso. Aos 13 anos, foi destaque em uma das partidas e convidado para uma semana de testes no Corinthians, seu time favorito. A cobertura jornalística e a transmissão dos jogos são de grande importância, segundo Carelli, para que os atletas tenham essa chance. “Todo esse aparato é importante para dar visibilidade”, finaliza ele.
O atacante do time São Pedro, Murilo, realizou o sonho de participar da Taça das Favelas e, aos 17 anos, se destacou no jogo de abertura da edição atual contra o Formigueiro. “Da outra vez não consegui participar, mas estou aqui e, felizmente, marcando o primeiro gol nesta edição”, conta ele. A partida, que ao todo contou com 3 faltas e 1 impedimento, terminou o primeiro tempo com o placar 0x0 até que, no segundo, o camisa 9 marcou o primeiro gol do campeonato, levando seu time à vitória. “Com a vitória parcial do time, acho que ele tem competência para ser campeão da Taça”, afirma ele.
O futebol feminino
A Taça das Favelas também é marcada pela quebra de paradigmas relacionados à igualdade de gênero no futebol. Começando desde sua organização, que tem uma mulher, Michele, à frente de tudo, até os times competidores. Apesar das equipes femininas corresponderem à metade das masculinas, sua participação representa a quebra da imagem de que a modalidade é exclusiva dos homens e dá continuidade à luta pela inclusão das jogadoras no esporte. A zagueira do time Santa Mônica, Ana Carolina, afirma que o torneio é uma grande oportunidade para que as meninas mostrem seu talento sem qualquer tipo de constrangimento. “Querendo ou não, as pessoas reconhecem a gente, conhecem nosso futebol e isso é muito importante para mim”, diz ela.
Entrada das seleções femininas na Cerimônia de Abertura [Imagem: Emanuely Benjamim].
Uma das equipes é a Damas da Bola, que existe há sete anos e já participou de campeonatos como Copa Band, na qual foram vice-campeãs, e agora estão, pela segunda vez, da Taça das Favelas. “Na próxima edição não sei se conseguiremos, porque parece que eles vão estipular idade limite”, conta Sandra, presidente do clube, que é composto por atletas das mais variadas idades. Entre elas, está Marcinha da Bola, a jogadora mais velha de Campinas, que conta: “Agora estamos vendo meninas para fazermos um Torneio Master com mulheres acima de 40 anos, já temos 15 competidoras".
Quando questionada sobre a motivação para continuar com o clube, que é totalmente gratuito e conta com apenas um patrocinador, Sandra aponta para a vontade de auxiliar as meninas. “Querendo ou não elas não tem apoio da família, tem uma vida muito sofrida. Então procuramos dar uma orientação psicológica fora de campo, porque infelizmente elas não tem”, ela afirma. Já para Marcinha, o esporte é uma qualidade de vida: “Além do futebol, vai a amizade”. Para elas, o importante é garantir que o talento das jogadores seja visto e que consigam melhores oportunidades, mesmo que, para isso, tenham que mudar de equipe.
Para além do esporte, o Damas da Bola tem um projeto de orientação sobre o cuidado com os animais de estimação, “Quem ama protege”. Ele visa informar as comunidades sobre os devidos cuidados e a importância da castração para que não haja a reprodução de animais abandonados. “Estamos tentando, junto com o esporte, mostrar esse projeto e incentivar as pessoas a valorizar os animais”, explica Angélica, jogadora cujo cachorro é o mascote do time. Com isso, elas planejam entrar em campo levando-o consigo para mostrar que, hoje, os pets fazem parte da família.
As integrantes do time apontam para a importância do esporte na vida das meninas. “O futebol ajuda a direcionar as meninas e tirá-las de más companhias”, afirma a presidente do clube, que relata ajudar as jogadoras que a procuram depois dos jogos para pedir conselhos. A atleta de 55 anos também remete à importância do esporte para diminuir o uso de drogas, já que elas se empenham e a prática exige um bom condicionamento físico. Para as três, o futebol feminino tem de tudo para melhorar e chegar em um nível próximo ao masculino. “É um trabalho de formiguinha, mas vamos fazer nossa parte”, finaliza Angélica.
Time Damas da Bola na Taça das Favelas 2022 [Imagem: Reprodução/ Facebook].
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