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Carolina Borin Garcia e Rebeca Fonseca

Trabalhadores de aplicativo e a pandemia

Com a exposição à Covid-19 e a demora na imunização, trabalhadores de aplicativo se arriscam diariamente nas ruas


Colagem por Carolina Borin Garcia: Fotos públicas / Freepik

Em fevereiro de 2020, os deputados Vicentinho Júnior - PL/TO , Rejane Dias - PT/PI, Zeca Dirceu - PT/PR e Nelsi Coguetto, conhecido como Vermelho - PSD/PR apresentaram o projeto de lei 1.011/2020, para incluir motoristas e entregadores de aplicativos no grupo prioritário para imunização contra a Covid-19. Atualmente, ele está em tramitação no Senado, essa lentidão burocrática para que os trabalhadores possam ser, ao menos formalmente, incluídos na vacinação, aliada à superexposição deles ao coronavírus, torna-os mais vulneráveis ao contágio e aumenta a intrínseca precarização de seus trabalhos.


Jornadas de trabalho extensas e abusivas, salários irrisórios, bloqueios inexplicáveis, ausência de assistência e suporte em caso de acidentes ou adoecimento. Essas são apenas algumas das dificuldades enfrentadas por essa categoria, que tem tido que se organizar e constantemente se articular para a conquista de direitos trabalhistas básicos.


A partir dessa articulação, movimentos e mobilizações como o Breque dos Apps, que ocorreu duas vezes ao longo do ano de 2020, foram construídos. No dia 1º de Julho do ano passado, ocorreu a primeira grande paralisação que abrangeu trabalhadores das mais diferentes plataformas, como IFood, Rappi, Uber. A mobilização foi um grito de denúncia das condições precárias de trabalho da categoria, mas também de oposição à narrativa disseminada pelas grandes corporações e empresas - donas dos aplicativos e das plataformas de serviço - de que, enquanto entregadores, esses trabalhadores poderiam se tornar empreendedores e “gestores” de si mesmos.

Breque dos Apps em São Paulo, Julho de 2020. [Imagem: Reprodução / Fotos Públicas]

A segunda paralisação ocorreu no dia 25 do mesmo mês e, mesmo com um número inferior de participantes, a força simbólica do ato permaneceu. Isso porque, sobretudo após o primeiro Breque dos Apps, as empresas emitiram notas e fizeram postagens em redes sociais afirmando o seu apoio aos trabalhadores e apontando medidas já adotadas, inclusive, em relação à garantia da segurança e da saúde dos trabalhadores em meio a pandemia.


Porém, na prática, grande parte das reivindicações da greve não foi atendida pelas corporações e parcela significativa dos trabalhadores relatou que a distribuição de equipamentos de proteção individual não ocorreu e, quando houve, se deu de modo restrito. Dessa forma, a organização de um segundo momento de greve demonstrou a permanência tanto da insatisfação quanto da capacidade de mobilização desses trabalhadores em oposição à lógica fundamentalmente neoliberal e individualista. Nessa perspectiva, ignorando desigualdades estruturais e históricas, os sujeitos são igualmente vistos como os únicos capazes de promoverem o seu próprio sucesso e ascensão econômica.


Trabalhador de aplicativo em rua de São Paulo [Imagem: Fotos Públicas]

No atual contexto, pensar a questão dos direitos trabalhistas e a criação de um auxílio emergencial expressivo é importante e intrínseco ao próprio debate sobre o bem estar dos trabalhadores. A pandemia levou ao limite a exploração dos trabalhadores de aplicativo, que, muitas vezes, sem outra opção de renda, tiveram que enfrentar o paradoxo da exposição ao vírus para que pudessem sobreviver.


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